Uma jovem bipolar. Uma jovem que mantém uma relação de amor-ódio com sua irmã.
Uma jovem que após ter se casado com um hombre e ter acreditado que esse era o certificado da felicidade, começa a sentir inclinações homossexuais, tenta negá-las, não consegue, e flerta com a mulher que a atrai, mas sem se atrever a dar o passo definitivo para a satisfação desse desejo ainda incompreensível para ela.
Essa é Brenda Garay, a personagem que tão bem compõe Gimena Accardi em “Sos mi hombre” (El Trece).
Só o fato de que a novela de Pol-ka lhe tenha deparado o papel de uma mulher condenada a viver na montanha-russa da bipolaridade já colocava Accardi em risco.
Esses papéis que exigem dos atores passar do cume da mania ao abismo da depressão geralmente são uma armadilha feroz: o suficiente com dar um passo demais para cair no exagero.
E o exagero é o caminho mais seguro para a caricatura, esse bando de sublinhados desnecessários destinados a tirar a alma do personagem melhor escrito, e transformá-lo em um boneco articulado.
De tudo isso preservou Gimena Accardi a sua Brenda. Inclusive quando o roteiro de Leandro Calderone levou Brenda a protagonizar um ataque piromaníaco ou a estar a ponto de ceder à extorsão do malvado Diego (Ludovico Di Santo) e provocar um aborto a sua irmã Camila (Celeste Cid), Accardi soube manter o equilíbrio na corda bamba, e saiu graciosa.
Compor uma mulher homossexual não é, seguramente, uma dificuldade maior para nenhuma atriz. Mas para Gimena Accardi está se exigindo mais: interpretar a transição da heterossexualidade à homossexualidade.
Aqui, a coisa se complica, porque entre o antes e o depois há um leque cinza para transitar: a dúvida, a luta interna entre o que ela foi e esse desejo inesperado que a empurra para uma praia onde jamais havia pensado desembarcar. Todos esses nuances Accardi está dando à personagem.
E anteontem, o assunto se complicou, porque a treinadora com a qual até agora havia tido aproximações físicas e emocionais em segredo, lhe propôs irem juntas a uma festa, se mostrar diante do mundo sem máscaras nem pudores, deixar de dar voltas ao redor da indecisão.
E, sabem o quê? Em minha modesta opinião, Gimena Accardi voltou a estar à altura da exigência atoral que lhe apresenta a trama. O seu é um bom exemplo do que pode o talento: Accardi não é a protagonista de “Sos mi hombre” e, no entanto, atrai a atenção do público, graças a uma composição impecável.
Bravo por ela.
Fonte: Quase Anjos 23
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